A FILOSOFIA CLÍNICA E OS JOGOS DE LINGUAGEM

O filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein (1889-1951), em sua obra Investigações Filosóficas, afirma que a linguagem pode gerar superstições e que é papel da Filosofia questionar, esclarecer e neutralizar os efeitos dessas superstições sobre o pensamento. Também aqui ele cunha a expressão “jogos de linguagem” e que é preciso abrir a mente e os olhos para ver como a linguagem funciona, qual a sua função prática, ou seja, é no uso cotidiano das palavras, da linguagem, que podemos apreender o que elas querem dizer, num conjunto de “perplexidades” que devem não ser interpretadas, mas trazidas à luz, numa “luta contra o enfeitiçamento da linguagem”.
Em Filosofia Clínica, essa proposição faz todo o sentido, pois o Filósofo Clínico coloca-se diante do partilhante para ouvir a narrativa de sua historicidade. E, ao contar sua história, a pessoa usará de jogos de linguagem que lhe são próprios, contextualizados e permeados de outros tantos jogos de linguagem que fazem parte de seu mundo.
Acontece, comumente, em nossa experiência de vida, trazermos “n” conceitos, cristalizados em nossa mente* e que podem nos “enfeitiçar”, fazendo com que cheguemos a “conclusões” nem sempre as mais oportunas para as situações que vivenciamos e para as questões que nos incomodam.
Daí que, ouvindo atentamente a narrativa, o Filósofo Clínico, também ele portador de jogos de linguagem dos quais deverá momentaneamente “abrir mão”, terá uma atitude de “entrar”** no(s) jogo(s) de linguagem do partilhante para, numa postura filosófica, ajudá-lo a ver a quais armadilhas conceituais*** essa linguagem pode levá-lo a pensar e a posicionar-se de modo, às vezes, não os mais adequados às situações que vivencia.
Dessa forma, podemos dizer que a Filosofia Clínica contribui para uma permanente ressignificação/desconstrução/construção de jogos de linguagem que sejam mais condizentes com o mundo em que vivemos, proporcionando melhor comunicabilidade e relação entre os seres****.
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*Em FC podem ser associados aos tópicos “pré-juízos” e/ou “termos agendados no intelecto”, que são juízos pré-estabelecidos e noções que se firmam em nossa mente, conduzindo nosso raciocínio.
**Aqui o Filósofo Clínico usará do sub-modo “recíproca de inversão”, que pode traduzir-se por “entrar no jogo de linguagem” do partilhante para melhor apreender sua narrativa.
***Tópico da Estrutura de Pensamento-EP: como diz o texto, conceitos, ideias que podem levar a paralisar e/ou a tomada de decisões menos adequadas às situações vividas.
****Ressaltamos a comunicação entre “os seres” referindo-se não só às pessoas, mas a todas as formas de vida da natureza, da qual somos parte.
Paulo Roberto Grandisolli

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